eng

Projeto FLY

Cartas Esquecidas


PTDC/CLE-LIN/098393/2008


Apresentação

O projeto FLY 1900-1974 corresponde a uma campanha de recolha, edição eletrónica e estudo interdisciplinar de um conjunto de documentos do século XX produzidos na esfera privada e escritos por autores de todos os estratos sociais. Trata-se de uma amostra de 2.000 cartas portuguesas compostas em contexto de guerra, emigração, prisão ou exílio entre 1900 e 1974, amostra essa que tem o duplo formato de corpus linguístico e de edição crítica disponibilizada na internet e comentada nas perspetivas histórica, linguística e sociológica.



Constituição da amostra

Recolheram-se 3.700 cartas provenientes de 16 arquivos públicos e de 130 coleções privadas e selecionaram-se 2.000 cartas. No caso das correspondências volumosas, não se ultrapassou, para cada par "autor-destinatário", o limite de 20 cartas escolhidas aleatoriamente. Assim se garantiu um tipo de representatividade expressa nestes números: - a dimensão do corpus é de c. 700 mil palavras, escritas por 572 autores de cartas; a média é de 3,5 cartas por autor e de 6 cartas por destinatário. O desequilíbrio entre 3,5 e 6 tem a ver sobretudo com o facto de o corpus integrar, ao lado de 1.860 cartas em registo informal – dirigidas a familiares, amigos, amantes, conhecidos – outras 140 cartas escritas por privados, sobretudo emigrados, e dirigidas ao Secretariado Nacional de Informação (SNI). Entre autores e destinatários, houve 870 indivíduos envolvidos nesta correspondência: – 572 autores e autoras, 338 destinatários e destinatárias. Eram sobretudo os homens quem ia preso, combatia, ia exilado, emigrava... e aprendia a escrever. A coleção Fly tem, portanto, 78% de cartas de autores masculinos, contra 22% de cartas de mulheres. Mas quase metade das cartas (i.e. 47%) foi recebida por mulheres.

Nas Tabelas 1, 2, 3 e 4 pode observar-se a distribuição da amostra em função da sua cronologia, da geografia e dos contextos de escrita. As décadas mais representadas são as de 1960 e 1970 e a região mais representada é África, facto que decorre de o contexto mais bem representado ser também o da Guerra Colonial.


Tabela 1: Cronologia das cartas

Intervalos de tempo Número de cartas Percentagem
1901-1910 62 3,1%
1911-1920 306 15,3%
1921-1930 33 1,6%
1931-1940 50 2,5%
1941-1950 14 0,7%
1951-1960 101 5,0%
1961-1970 921 46,05%
1971-1974 511 25,55%


Tabela 2: Distribuição geográfica das cartas de Portugal

Origem da carta Total Percentagem
Norte 375 18,75%
Centro 191 9,55%
Sul 266 13,3%
Ilhas 63 3,15%
Portugal: s/l 10 0,5%
Portugal: total 905 45,25%


Tabela 3: Distribuição geográfica das cartas de Fora de Portugal

Origem da carta Total Percentagem
África 417 20,85%
Ásia 14 0,7%
América do Sul 271 13,55%
América do Norte 40 2%
Europa 271 13,55%
Fora de Portugal: Total 1013 50,65
S.l. 82 4,1%


Tabela 4: Contexto de escrita das cartas

Contexto Número de cartas Percentagem
I Guerra Mundial 147 7,35%
Emigração 609 30,45%
Prisão 305 15,25%
Exílio 71 3,55%
Guerra Colonial 868 43,4%
Total 2.000 100%


Transcrição e edição das cartas e tratamento das digitalizações

A transcrição é quási-paleográfica, normalizando-se apenas a fronteira de palavra. As conjeturas do editor surgem entre parênteses retos e as leituras difíceis foram assinaladas com contraste de cor. As formas emendadas nos originais manuscritos estão rasuradas com um traço sobreposto, enquanto as formas acrescentadas nos mesmos originais se transcreveram na entrelinha superior. Com o intuito de salvaguardar dados privados, as ocorrências de nomes de pessoa surgem substituídas pela letra [N], as de nome de lugar, pela letra [L], e as de outros dados, pela letra [D]. Finalmente, as cartas de acesso restrito têm reticências entre parênteses retos a assinalar texto suprimido.

A edição das cartas seguiu sempre os protocolos da linguagem XML-TEI, um formato que permite a compatibilidade com projetos semelhantes levados a cabo em outras universidades e em outros países, bem como a legibilidade por máquina, e, por conseguinte, a fácil disponibilização na Internet. Em grande parte dos casos, este trabalho correspondeu a uma proporção de 3 edições diferentes para cada carta: a equipa fez uma edição completa para arquivo; em segundo lugar, uma edição com as entidades nomeadas suprimidas (pessoas, pequenos lugares e instituições muito precisas), a publicar neste site; por último, e nos casos em que os proprietários da documentação tenham pedido alta confidencialidade, uma edição truncada, só com alguns trechos legíveis, também para o site (nestes casos, a edição completa só pode ser consultada por portadores de credenciais). Transcreveram-se assim 2.000 cartas em XML-TEI, todas elas também anotadas com etiquetas textuais e com palavras-chave de sociologia.

A maioria dos originais teve ainda digitalização, mediante recurso a scanner ou a máquina fotográfica. Cada imagem digital teve depois os nomes próprios rasurados, mediante recurso a um programa de tratamento de imagem.



Creative Commons License
FLY Forgotten Letters Years 1900-1974 by Centro de Linguística da Universidade de Lisboa is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported License.
Based on a work at http://fly.clul.ul.pt/