1967. Carta de amor de um alferes para a sua namorada. De Angola para [Coimbra] (concelho). FLY0067

FLY0067
Carta de amor de um alferes para a sua namorada. De Angola para [Coimbra] (concelho).

Data
19/09/1967

Referência Arquivística
N.A..
N.A., Coleção Particular, FLY0067, Fólios [1]r-v

Resumo
O autor pede desculpas à namorada pelos atrasos nas cartas e reitera o amor que tem por ela.

Local
Angola

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Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Texto

Fl. [1]r

19 de Setembro de 1967

[N]

Recebi agora mesmo a tua carta enviada no domingo. São
nove e tal da noite e encontro-me na minha tenda de campanha à luz
de um cadeeiro. Apesar do estado de cansaço e sono em que me en
contro vou imediatamente escrever esta carta para ti, pois amanhã de manhã
vai um jeep da companhia a Luanda e o condutor leva-me a carta.
Querida [N], sinto-me verdadeiramente aborrecido e triste, pelo que, com
razão, me dizes na parte final da tua carta. Mas podes crer [N], que
além da parcela de culpa que me cabe, há outra a que sou alheio.
Há qualquer coisa que se está a passar e que não sei o que é, mas uma
destas três é. Isto em relação à carta que enviei para ti no domingo, dia 10
e que tu deverias receber na terça ou quarta-feira seguinte. Ou a
pessoa a quem pedi para me levar a carta ao Aeroporto não a pôs,
ou extraviou-se no correio, ou alguém ficou com ela e não te entregou.
Realmente as três últimas qcartas que enviei para ti foram no dia 10,
no dia 15 (que só devia ter seguido no avião dia 16) e no dia 17. Tenho pró
priamente culpa, meu amor, no espaço de tempo que foi de 10 a
15 ou 16. Hoje estou a escrever, mas só poderá seguir concerteza no avião
de quinta, pois o de amanhã é às 10h da manhã e já não deve
chegar a tempo dele.

Compreendo-te [N], o que sentes ao passarem tantos dias sem receberes
correspondência minha. Desculpa-me. Como te digo uma das
últimas cartas tenho tido imenso trabalho, mas de qualquer
maneira isso não me justifica totalmente. Perdoa-me, minha
[N], o mal que te faço. E nem estou zangado contigo nem
te esqueci. Não estou zangado contigo porque não tenho
razões nenhumas para isso, antes pelo contrário, e porque nunca me
zangarei contigo. E esquecer-te muito menos, tu bem sabes
[N], que te amo verdadeiramente. Tu és o amor da minha
Fl. [1]v
vida e cada vez mais aumenta o meu amor por ti. E não penses que
digo isto por qualquer razão, que não seja aquela a que corresponde
exactamente o que as minhas palavras querem dizer. Pode a minha
correspondência atrasar uns dias, posso eu andar muito arrasado
psicológica e espirtitualmente, mas esquecer-te nunca. Prezo-me de
ser homem e como tal fiel a todos os compromissos tomados.
Não por serem comprimissos em si, mas porque continuo a sen
tir o mesmo. As distâncias [N], afirmo-te do fundo do coração,
não fizeram diminuir nada o meu amor por ti, antes bem pelo
contrário. Mais do que uma sinto a tua falta, o teu carinho, o teu
amor, a tua ajuda. Um dia cheguei à conclusão de que a
[N] era a minha moça ideal e que reunia as condições
ideias para um dia ser a minha companheira na vida e a
mãe dos meus filhos e essa conclusão é irreversível. Tu,
[N], efectivamente há-des ser, se Deus quiser, a minha
mulher.

E desculpa-me [N] todo o mal que te faço com estas minhas
faltas, mas nem sempre consigo vencer as dificuldades e os proble
mas que me surgem. Perdoa-me e reza muito pelo teu [N].
A vida é dura e é preciso muita coragem para vencer. Oferece estas
minhas fraquezas e faltas e o sofrimento que elas te trazem,
pelo nosso namoro e pela nossa felecidade do nosso futuro
lar.

Então querida [N], como vai a tua saúde? E o rendimento
do teu estudo?

Olha eu continuo bem. Estou em exercícios finais a cerca de
15Km de Luanda, e como todos os exercícios finais as condições não são
boas. Mas estou bem e não te preocupes comigo. Acabam sexta-feira.

Amo-te [N]

Adeus, meu amor.

Estou sempre contigo, o sempre teu.

[N]




Contexto
Guerra Colonial



Palavras Chave

Tipo: expressão de amor
História: guerra colonial
Sociologia: comunicação, família




Suporte Material

Suporte: duas folhas de papel pautado de 32 linhas escritas em ambas as faces.
Medidas: 265mm × 155mm
Mancha Gráfica: quatro linhas em branco a separar fórmula de endereço e o início do texto.




Créditos

Transcrição: Ana Guilherme
Revisão: Rita Marquilhas
Codificação DALF: Ana Guilherme
Contextualização: Joana Pontes




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