1971. Carta familiar entre irmãos. De Marco de Canaveses, Portugal, para Camabatela, Angola. FLY1338

FLY1338
Carta familiar entre irmãos. De Marco de Canaveses, Portugal, para Camabatela, Angola.

Data
06/01/1971

Referência Arquivística
N.A.
Arquivo Privado, Arquivo Privado, FLY1338, Fólio [1]r-v

Resumo
A autora da carta relata ao irmão como foi a sua passagem de ano, à lareira e na companhia de familiares. Conta pormenores sobre a noite em que foi com um grupo cantar os Reis, comenta como numa outra terra esta tradição é diferente, e mostra espanto em relação ao atraso da encomenda que lhe enviou.

Local
Marco de Canaveses

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Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Texto

Fl. [1]r

[L]

- 6,1,71

Querido Mano

Após ter recebido uma carta tua escrita no
dia 27 aqui estou a responder-te. Já era para
o ter feito mas soube pelo telefone que tinha
em [L] correio teu e então aguardei para
saber as notícias. De facto não eram encanta-
doras e muito pior por ser na altura em que foi
mas enquanto formos nós a contar estas coisas
a vida bem vai, o pior será quando formos nós
os contados.

Bem, posto isto vou-te contar como foi para
mim o Ano Novo, isto é, as entradas. Como sempre
à lareira enquanto uns jogavam as cartas - [N],
Pai, mãe e família Sapateiro, e eu bordava; contavam-
se anedotas para não tornar pesada a atmosfera e assim
fomos para a cama às 2 h da manhã.

A [N] e as meninas passaram o Ano Novo connosco.
No sábado, dia de Reis eu e a [N] fomos cantar
os Reis toda a noite para [L] com um grupo
de lá uma vez que também lá fazemos trabalho.
Não queiras saber a borga que foi. Não sentiamos
frio nem nada, começou a nevar e às tantas
não se podia andar, era cada tombo, os tocadores e
outras pessoas corriam mais do que queriam.
Mas eu não cheguei a cair, pois trazia uma boa
bengala que não me deixou ficar mal. Imagina
saí de casa no sábado ás 6 h e cheguei ao
outro dia às 11 h. Fomos muito bem respeitadas
e tratadas, até se desfaziam em amabilidades demais
para nós.
Fl. [1]v
Agora passo aqui para [L]. No dia 5 para o
dia 6 pensamos estar aqui na nossa casa, mas
de repente recebemos um telefonema para irmos
jantar à casa da [N]. Não queiras saber como
é para lá os Reis, só te sei dizer que eu tomasse
conta, foram lá cantar 10 grupos os Reis.
Esperavam uns pelos outros para cantar.
que diferença há entre a nossa terra e esta da
[N]!

Afinal [N], estou admirada por ainda
não teres recebido a encomenda que te mandei
Pensava que recebesses antes de Natal! Oxalá
que já tenhas sido entregue dela porque senão
o Bolo Rei estraga-se.

Logo que a receberes, manda-me dizer, por-
que estou em cuidados. Eu mandei-a daqui
no dia 15, portanto tinha 10 dias para aí
chegar, julgo que era tempo suficiente, mas
agora nesta época de natal as coisas demo-
ram sempre mais.

Por agora vou treminar, julgo que palavri-
ado deve chegar.

Recebe muitos beijinhos das meninas da
[N] que estão muito amorosas e dela tam
bém. Das minhas colegas, os mesmos que
envias. Dos pais e vizinhos um abraço de
saudades.
Da tua querida manita um xi
coração muito apertado

[N]

P.S.
P.S. Na próxima diz se já te encontras na
cidade ou nos matos.



Contexto
Guerra Colonial



Palavras Chave

Tipo: notícias
História: guerra colonial
Sociologia: religião, comunicação




Suporte Material

Suporte: folha de papel de carta escrita em ambas as faces.
Medidas: 260mm × 155mm
Mancha Gráfica: linha em branco separando o local e a data de escrita da saudação e uma linha separando o restante texto.




Créditos

Transcrição: Leonor Tavares
Revisão: Rita Marquilhas
Codificação DALF: Leonor Tavares




Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com