Texto Fl. [1]r [L] - 6,12,70 Querido filho e Mano Depois de ter finalmente notí-cias tuas dirigidas aos pais, aqui estamos a responder como é habitual. De saúde ficamos menos mal pois o trabalho é tanto que nem nos dá tempo de nos queixarmos, isto agora com as sementeiras. Quanto ao meu trabalho, não falta , a dificuldade to- da é não ter com quem, mas vai-se fazendo o que se pode, não somos mais obrigados. Cada vez temos mais fal- ta de pessoal. E eu digo que ainda cá há muita, para se fazer o que se quer. Sou eu [N] que digo isto, mas não o pai, compreendes. Falo assim porque para haver desenvolvimento na agricultura tem de haver menos 3 partes do pessoal. Portanto estás a ver que ainda há pesso- al a mais, mas os velhos julgam que não. O que vai substituir as pessoas são as máquinas. Tão pouco utilizadas ainda neste Portugal por descobrir que é a nossa terra, mas tenho esperanças que estamos à porta dos descobrimentos. Não sei se já sabes que a estrada vai começar na próxima 4a feira dia 9. mas parece que fica só no cruzeiro. Conti- nuamos esolados. Parece impossível Fl. [2]r nos tempos de hoje que tudo anda a velocidades doidas, só a nossa estra- da ainda anda a passo de lesma como há 200 anos atrás. Também não sei se tens conheci- mento de que o [N] foi operado na França ao apentecite aguda. Já nos escre- veu, e pediu para te participar como tam- bém pediu que lhe mandasse notícias tuas. Segundo diz, não pode escrever-te. Agora parece que já está melhor, mas coi- tado, agora no princípio da vida que lhe estava a correr tão bem, custa sempre. Mas se Deus quiser há de recuperar tudo. [N], esteve cá a [N] e dei-nos muito boas impressões do teu colega, só tive pena de não o conhecer que lhe havia de dar um abraço para o fazer chegar a ti muito apertado. Quando voltarem hádes traze-lo cá. A [N] mostrou-me uma foto que lhe man- das-te e pela foto verifiquei que estás a ficar muito calvo. Tem cuidado para não ficares como o [N]. Deves pentear o cabelo para o outro lado, senão brevemente estás care- ca. Fiqui triste ao saber que possivel- mente passarás o Natal nos matos. Não quero pensar no Natal do Ano passado como foi triste para mim mas vamos ter coragem para poder vencer aquilo que tanto nos custa que é a separação. Com um abraço de muitas, muitas saudades se despede a tua mana e um abraço dos pais. [N] Contexto Guerra Colonial Palavras Chave Tipo: notícias Suporte Material Suporte:
duas folhas de papel de carta escrita apenas no rosto.
Créditos Transcrição:
Leonor Tavares
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