Texto Fl. [1]r Candós 4-1-70 Querido Mano Sempre no desejo de estar contigo aqui estou maisuma vez em diálogo para podermos participar activamente do nosso viver. Tal como deves ter notado, é a primeira vez que te escrevo neste novo Ano que começou. Para mim não começou muito mal, muito embora não possa dizer bem, visto faltar-me aquele de que neste momento sinto mais falta, - és tu -. Como a vida é cheia de faltas, tenho que sopurtar ainda mais esta, depois de tan- tas que [...] Neste início não tenho nada de especial que seja digno de apontamento, é tudo sempre na mesma, não se sai da sopatorta; vai-se à missa... apanham-se umas molhadelas... umas rabanadas de vento e frio... enfim, não se passa disto. Sabes, no dia de Ano Novo ou seja dia 1 de Janeiro passei a vida ou melhor, a tarde a visitar os doentes cá do lugar que agora está a crescer bastante o no deles. Neste momento estão: o sr [N] e a mulher na cama doentes, o sr [N] continua na mesma. Ele manda-te um abraço e pergunta quando é que te lembras dele. A passagem do ano passá-mo-la sòsinhos com as «criadas»; foi triste porque nem sequer ouvi cantar as janeiras nas casas dos outros, porque na nossa nunca chegaria a ouvi-las sòmente à noite telefonou para cá a [N], assim mesmo daqui de casa, podemos estar com ela, pois quis falar com todos nós um pouco. Por aqui o tempo tem estado péssimo de chuva e nevões. Tem estado todo o distrito de Tràs-os-Montes interrompido e também o Marão Cá em Portugal, como nos outros países, anda numa epedemia de gripes que tem estado casas fechas e morrido muita gente. Até agora ainda não nos atacou mas a todo o momento a esperamos Já recebemos correio teu escrito aí no dia de Natal. Fiquei conten- te por todas as notícias porque era precisamente isso que eu esperava Então!.. Tens recebido muito correio meu? recebestes algum no dias proximos do Natal? Escrevestes e nada dissestes, mas de certeza que fostes recebidos. Estive para te mandar um telegrama, mas tivemos receio de que te assustasse e então escrevemos cartas. Fl. [1]v É verdade? Já fostes recebido da garrafa de aguardente que se mandou pelo sr [N]? Se estivesses na capital seria mais fácil de te mandar qualquer coisa, assim há mais dificuldade mas sempre que tenhamos por- tador te lembraremoos de ti. Não sei que te dizer mais, é verdade, já te escreveu o [N] de [L] e o [N]? Todos eles têm me escrito e mandaram me fotografias. É verdade? Quando é que nos mandas fotogra- fias tuas mas mais bonitas que estas. Olha que o pai até quer que as escondamos porque lhe metem impressão, parece que estàs morto ou a dormir, mas mesmo assim estás na minha mesa de cabeceira e no aparador da sala Hoje mesmo vai a [N] para o Porto, já terminaram as férias e eu também não demora muito aqui. Não suporto esta solidão Estive com a minha Assitente Social e parece que ainda não come- ço a trabalhar em Janeiro. Espero por correio teu aqui para casa a responder a todas estas interrogações que te faço, se não chegar uma folha enche duas ou três. Julgo ter dito tudo aquilo que desejava. Vou finalizar com saudades de todos os visinhos e amigos. Desejo que continues bem, sem problemas de maior: Diz-me se é verdade estar a ser atacada esta essa zona, diz tudo o que se passa, não digas só meias verdades - diz verdades inteiras, está bem? Com um xi coração muito apertado me vou despe- dir mais uma vez, votos de muitas felicidades, muita prodência, optimismo, saude, alegria e boa disposição um beijo de saudades da tua mana muito querida [N]. P.S.P.S. Soube que escreves à [N] da [L] Será namoro? Não acredito... Contexto Guerra Colonial Palavras Chave Tipo: informação Suporte Material Suporte:
folha de papel sem linhas escrita em ambas as faces.
Créditos Transcrição:
Leonor Tavares
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