Texto Fl. [1]r Porto, Caríssimo Amigo [N]: como não podia deixar de ser, o início destacarta, será em tudo igual ao de muitas outras que a precederam. Na verdade começo por pedir-te des culpa pelo atrazo que houver na correspondência - e para isso até vai esta de avião visto ser mais rápida mas os dias correm que voam quando damos por ela não temos asas suficientemente fortes para o apanhar e como não podia deixar de ser começa- mos a ficar para trás, e estar atrazados. Na verdade já recebi os aéros teus sem que te escrevesse, o último foi mesmo hoje - era o que trazia a fotografia - e para não atrazar mais, mal o li comecei logo a escrever. Pois, caro amigo, sobre a minha vida, quase é parecida com a tropa, só que não ando no mato mas a verdade é que também pareço viver numa prisão, só que bem entendido, de livre vontade. Assim é que apesar de o Tribunal estar em férias Fl. [1]v eu para mim não há tal. A minha vida desde o dia 1 de agosto tem sido e continuará a ser até fins de Setembro, esta: Levanto-me às 9 h da manhã, fico em casa a estudar até à hora do almoço, mal acabo de comer, vou para o trabalho e estudo lá desde as 2 h até às 7 h da tarde. Depois venho a casa jantar e ás 9 h da noite vou ter com os meus colegas à Boavista e ficamos a estudar até por volta da 1h, 1 h e tal. E isto consecutivamente, esta é a razão porque de novidades pouco, nada tenho a contar, dada esta quase minha vida de ermitão. Sobre os teus, creio que estás ao corrente das suas vidas. A [N] está a gozar férias em casa, com o pai, a tua mãe está cá em baixo, em casa da [N] a passar o tempo de praia. A [N] chegou esta semana de Lisboa e foi também para a aldeia passar uns dias. As miúdas Fl. [2]r da [N] estiveram todas com o sarampo, do [N] e [N], nada sei uma vez que ficam mais além fronteiras, mas por certo te têm escrito e estarás ao corrente das suas situações. Agora, antes que esqueça, quero agradecer-te a foto enviada, enfim estás aquilo que sempre foste, o que devias era tirar uma foto com uma preta boa, toda núa ao teu lado, que era para a gente saber se há aí mulheres, ainda que pretas, que valham a pena dar duas trolitadas ou se a única maneira é ir à Rua da Palma, no 5, direita. Pois caro [N], não sei sinceramente que mais dizer pois a vida continua a processar-se na normalidade suturna, melancólica, sem nada que a faça estremecer e dar-nos algo que contar. Ah! é verdade, está quase a chegar o campeonato mas... desta vez não temos pre- tensões, pois segundo diz o Sr [N], quem Fl. [2]v fica campeão este ano é o Belenenses. E por acaso logo na segunda jornada há logo dois jogos de peso: Benfica-Sporting e Porto-Belenenses. Se o Belenenses ganha aqui ao Porto então é que ninguém cala o Sr [N]. E pronto vou finalizar, esperando que haja sido perdoado pela demora do correio e com os votos que a vida te continue a correr por aí à medida dos teus desejos bem como a saúde e disposição nunca te faltem envio o meu abraço cordial e de sincera amizade deste teu amigo sempre ao dispor [N] P.S.PS: Agradeço reconhecido a tua contribuição junto de Deus para o meu sucesso nos exames, só confirma que [...] és amigo. Gratias tantas. Contexto Guerra Colonial Palavras Chave Tipo: notícias Suporte Material Suporte:
folha de papel de carta dobrada e escrita em todas as faces.
Créditos Transcrição: Leonor Tavares Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com |
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