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Texto
Fl. 4v
29, 3a. feira. 13,20 h
No fim de muito insistir, falar, andar de umlado para o outro (desde as 11,30 h) consegui agora
mesmo receber as 122.000 libras que o meu
pai me mandou pelo Banco. O problema foi
que o cheque vinha dirigido ao Crédito Italiano
de Milano. Como na agência de Firenze deste mesmo
Banco não tinham conhecimento das assinaturas
que constavam no cheque (do director e outro elemento do Banco
P do Atlantico de [L]) tive de procurar
um outro Banco aqui, onde essas mesmas assi-
naturas fossem conhecidas. Então o funcionário
do Crédito Italiano telefonou para esse Banco
(Banca Nacion Comerciale Italiana) informou-se
formalmente da existência das assinaturas
e só então me pagou a quantia. Uma burocra-
cia do caneco! Por outro lado o funcionário
que tratou do cheque com o meu pai em
[L] foi estúpido, porque mandou o
cheque para dirigido à sede de Milão, sabendo
que eu estava em Florença e que me seria
certamente desagradável ir a Milão só para
levantar o cheque. Sendo assim, devia ter
dirigido o cheque para um Banco que onde
houvesse a certeza do conhecimento das assinaturas
Fl. 5r
do Banco Port do Atlantico. Incompetência,
falta de inteligencia e de elasticidade mental!
Bom, desculpa, porque a ti este assunto
não te interessa "affatto" (absolutamente nada - desculpa
o italianismo)
Não falo AINDA tão bem italiano como francês
mas para lá vou indo. De resto as pessoas que me
conhecem são unânimes em dizer que a minha
pronuncia vai melhorando gradualmente. Pessoal-
mente penso que seja verdade porque agora já
não sinto aquele extase que sentia quando
cheguei, ao ouvir falar italiano e isso significa
que estou muito mais dentro da língua (não
quer dizer que goste menos dela!)
[...]
Fl. 5v
Ainda nunca te falei do meu quarto, ou melhor,
do quarto onde durmo.
É um grande casão, alto, onde estão três
camas. Uma, desde que cá estou tem estado
sempre livre. Eu estou numa, [N] (o bra
sileiro) está noutra. Um guarda fatos grande,
uma cómoda grande, em cada um destes
um espelho. Uma mesa de trabalho, uma cadeira.
Ao lado de cada cama uma mesa de cabeceira.
Espaço, luz, ar.
Agora, o sol entra pela porta-janela (donde
se vê umas traseiras de casas não desagradável
com um istmo de telhados, - estou num 3o andar -
de paredes, de janelas verdadeiramente bonito)
e o quarto fica com esta luz, com este calor
sem os quais eu não posso viver.
Este sol, que agora me bate, que, ilumina
esta folha de papel pode ser de Lisboa ou de
[L]. Sobretudo por causa desta integração,
desta harmonia entre mim e a luz gosto
tanto de estar cá, de viver aqui.
Não me sinto estranho, estrangeiro. Na
verdade este sol sempre foi o MEU.
Hoje vou cortar o cabelo. Não o pude fazer
antes porque é caro (3 000 liras - 120$00!)
Fl. 6r
Nao é que esteja feio [...] mas
é que aqui não se usa muito. Sobretudo para
conservar uma certa sobriedade em relação aos
americanos (que trazem uns cabelos enormes) os
italinaos não o deixam crescer muito. Não o
corto por uma questão de pretensiosismo, ou
talvez até seja mas será legitimo pretensiosimo;
depois mando-te uma fotografia já fiz algumas
com um norueguês e com uma suiça da Escola,
que te mando quando estiverem prontas. [...]
Fl. 6v
[...] Sinto-me com uma falta de originalidade
e imaginação, relativa àquilo que escrevi,
trágicas. Desculpa, mas são dias - Esta
coisa de os textos lerem as pessoas....!
Que chatice!!!
Um beijo
[N]
Contexto
Exílio
Palavras Chave
Tipo: notícias
História: exílio
Sociologia: educação, condições económicas, cultura
Suporte Material
Suporte:
uma folha de papel de carta escrita no verso e mais duas escritas em ambos os lados .
Medidas: 286mm × 226mm
Mancha Gráfica:
sem linhas em branco entre o cabeçalho e o início do texto.
Créditos
Transcrição:
Leonor Tavares
Revisão: Rita Marquilhas
Codificação DALF: Leonor Tavares
Contextualização: Ángel Rodríguez Gallardo
Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com