1918. Carta de amor de um militar do CEP para a namorada. De França para o Porto. FLY2079

FLY2079
Carta de amor de um militar do CEP para a namorada. De França para o Porto.

Data
12/08/1918

Referência Arquivística
Arquivo Histórico Militar.
Corpo Expedicionário Português, I Divisão, 35ª Secção, Caixa 86, Fólios [1]r-[3]v

Resumo
Carta de um soldado do CEP à namorada pedindo-lhe um fato para poder tirar a fotografia do passaporte e pedindo que ela se dirigisse à mãe dele por causa do dinheiro necessário para uma ida a Portugal; refere também os acontecimentos de 9 de Abril, dia da batalha de La Lys, de que havia saído ileso, embora tivesse ficado sem os seus haveres.

Local
França


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Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Sobrescrito

Destinatário

Exma Snra
[N]
[N] Rua de
[L] n [D]
Porto



Texto

Fl. [1]r

França

12/8/918

[N]

Meu querido amôr em
pirmeiro de tudo saude
é que te dezeijo que eu
istou bem. [N]
oje que te iscrevo bam 3
soldados de liçença mãs
não são do porto ninhun
deles mãs pedi ea um para
butar esta carta em liesboa
para tu seres emtregue
dela saberás que eu tam-
bem tenho a minha liçe-
nça asináda mãs é por
terra que não á licenças
por már i são perçijo
Fl. [1]v
300 francos óra eu só tenho 112
francos i 125 que abona o com-
seilho que é os abonos poies na
pasajem gastase 94 francos mãs
é persijo levar 300 francos com-
tando com 125 que abona o
comseilho eu queriate mandár
algum mãs já te não mando
por que quero ire de liçença
mãs não tenho que chegue por
isso tenho que iesperar algum
tempo se não ia agora porque
também fui chamado i eu disse
que não tinha que chigasse
porque meti a liçença i ela
beio açinada são 53 dias é
persijo aperzentár 300 francos
porque se pode iestár em
paries à iespera de comboio
para ire por ispanha porque
a pirmsipio iam para lá com
o chapeu de ferro na cabaça
i a mascra i aquela gente
pomha se a churar i já que
Fl. [2]r
não posso mandarte dijer nada
daqui devido à çençura porque
somos qaistiegados pésute que me
mandes o fácto à paijana o
preto que é para eu tirare o
retrato para o pasaporte mesmo
não pudia ire agora devido
a não ter cá o facto manda-
me rejustádo porque temos
um facto à paijana para
passár a fromteira ispanhóla
poies bai à minha mãe com
esta carta i mostrala a ver
se me podem aranjar 20
mil reies para eu ire pró
mes que bem porque istou
ansiojo de regreçar a essa
terra eu istou lonje do arraial
2 dias de comboio já não
istou nas trincheiras saberás
que no dia 9 de abril iestáva
nas linhas quando comesou
a ufençiba i eu iscapei mas
murreu muinta gente
i eu iscapei más fiquei
Fl. [2]v
çem náda porque os
alemãs abançaram i
eu tinha toda a roupa
dentro d uma caixa
i os retratos i ficou tudo
persiuneiro a onde
murreram 6 mil hom-
mes i 10 mil persiuneiros
poies agora istou bam
mãs ainda um dia
deste era meia hora da
noite bombardiaram
esta çidade i tive de ire
pras trixeiras foi bom-
bardiado pore os airopela-
nos be se podes aranjar
os 20 mil reies i a minha
mãe que beija se pode
que eu quando lá chigá
re pago que não gasto
todo na pasaije não
me asino porque pode
apreender a carta i é um
Fl. [3]r
pirgo por isso já sabes que é
minha por a letra

teu homem

[N]

P.S.
teu retrato tambem ficou
persiuneiro como já
te mandei dizer se
Fl. [3]v
reçeberes esta carta manda-
me dizer foi á perça
bai mal iescrita desculpa



Contexto
I Guerra Mundial.
A carta não foi assinada pelo autor, voluntariamente, justificando-o assim no texto: "não me assino porque podem apreender a carta e é um perigo por isso já sabes que é minha por a letra" (escrita normalizada).



Palavras Chave

Tipo: notícias
História: I Guerra Mundial, serviço militar, guerra, família, licença, censura, batalhas
Sociologia: conflito armado, condições económicas, serviço militar




Suporte Material

Suporte: uma folha de papel de carta dobrada escrita em todas as faces e um pedaço de papel escrito em ambas as faces.
Medidas: 170mm × 111mm
Medidas do Envelope: 121mm × 92mm
Mancha Gráfica: sem linhas em branco entre a fórmula de endereço e o início do texto.




Créditos

Transcrição: Mariana Gomes
Revisão: Rita Marquilhas, Mariana Gomes
Codificação DALF: Mariana Gomes
Contextualização: Sílvia Correia




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