Cartas

exemplo 
Ano:  Local:  Tipo:  Contexto: 



contexto de escrita I Guerra MundialGuerra ColonialEmigraçãoPrisãoExílio  



I Guerra Mundial
Decorrida entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918, a I Guerra Mundial resultou na derrota das Potências Centrais (lideradas pelo Império Alemão, o Império Austro-húngaro e o Império Otomano) pela Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, pela França e pelo Império Russo até 1917, e pelos Estados Unidos, a partir dessa data)...
ver mais...

Guerra Colonial
A guerra colonial, também chamada guerra do ultramar ou de libertação, consoante a posição assumida face à sua legitimidade, começou em 1961 e terminou em 1974 na sequência de um golpe militar, desencadeado no dia 25 de abril, que derrubou a ditadura chefiada por Marcello Caetano. Durante 13 anos as forças armadas portuguesas combateram...
ver mais...

Emigração
A emigração portuguesa, como a entendemos hoje, caracteriza-se por quase dois séculos de diversidade. Embora se saiba que Portugal foi - e continua a ser - um país de emigração, no século XX, devido à pobreza do país e à falta de progresso industrial, houve um claro processo de emigração em duas vagas. Na primeira vaga, no início do século...
ver mais...

Prisão
A política prisional do Estado Novo caracterizou-se pela jurisdição excecional de que beneficiava, o que permitia uma prisão preventiva por tempo indeterminado, sob controlo permanente da Polícia Política, dos Tribunais Militares Especiais e, a partir de 1945, do Tribunal Plenário Criminal (TPC). Depois de serem detidos, os presos...
ver mais...

Exílio

O exílio político é a saída forçada do país de origem como resultado de uma oposição ou descontentamento civil em relação ao poder de um Estado. Geralmente, o exilado distingue-se do emigrante por já possuir uma certa formação cultural e professional. São esses atributos que o ajudam a sobreviver no país de acolhimento, onde pode desenvolver atividades não alcançáveis por outro tipo de emigrante. Em muitos casos, os exilados estão associados a camadas cultas da população, a élites intelectuais e a dirigentes políticos de opção ideológica semelhante à da sociedade de acolhimento. No entanto, a presença do exilado no país de acolhimento não é encarada como uma realidade “permanente”. O primeiro objetivo do exilado é o de continuar a luta política que o afastou do seu país natal.

Mais do que com a sobrevivência económica, o exilado preocupa-se com legalizar a sua situação através de documentação (passaporte) e assim se converter num verdadeiro “emigrante”, ou seja, num “cidadão estrangeiro”. Este foi o contexto até 1922, quando se criou o Passaporte Nansen por parte do Alto Comissariado do Conselho da Sociedade das Nações; era um passaporte que servia os exilados e refugiados que tinham perdido a nacionalidade original. Até 1933, a Convenção Relativa ao Estatuto Internacional dos Refugiados não regulou a não devolução aos países de origem dos elementos tidos como refugiados políticos. A insegurança legislativa do exilado era diretamente proporcional aos limites de tolerância do país de acolhimento, de modo que esta incerteza o fazia viver sob a ameaça permanente do regresso ao país de origem.

A ditadura portuguesa (1928-1974) provocou uma das maiores saídas de exilados políticos na Europa, comparável à que ocorreu em Espanha durante a Guerra Civil. A luta e oposição dos exilados políticos portugueses manter-se-ia ativa em três destinos: Europa, África (sobretudo Argélia) e América.

Em Espanha, durante o período republicano (1931-39), concentrou-se um outro núcleo numeroso de exilados portugueses, que conviviam com os seus companheiros espanhóis, especialmente em Madrid (outros na Galiza), onde alguns conseguiram mesmo documentação e puderam trabalhar como comuns emigrantes. Os que sobreviveram sem documentação apoiaram-se nas redes solidárias criadas por exilados e emigrantes. Alguns destes exilados envolveram-se na revolução das Astúrias de 1934, acabando por ser presos e novamente exilados em França ou na Bélgica (outro polo de emigração durante os anos ’50 e ’60). Ainda assim, um grupo de exilados portugueses foi levado para um campo de concentração no sul de França no final da guerra civil espanhola.

Durante o século XX, muitos exilados europeus – incluindo portugueses – foram acolhidos na América. No caso português, dividiram-se em três grupos: o da América Hispânica (México, Argentina e Venezuela), onde também estavam exilados espanhóis (simbolizado pelo grupo de assalto ao paquete Santa Maria), o dos Estados Unidos e o do Brasil, o maior.

O Brasil sempre foi o destino de preferência da emigração portuguesa e da oposição aos governos (dos liberais que se opunham a D. Miguel, dos monárquicos que se opunham à República, dos antisalazaristas). Os exilados chegaram a criar aí associações de organização política e durante a década de 1940, quando a denominação dos regimes português e brasileiro coincidiam, Estado Novo, bem como o seu carácter ditatorial, Portugal enviava para o Brasil os seus “indesejáveis”.

Nos anos 50 e 60, chegou uma nova vaga de exilados graças à ajuda da Embaixada do Brasil em Lisboa, o que provocou um conflito diplomático entre os dois países e na política interna brasileira. Outros exilados ou refugiados entraram clandestinamente no país com passaportes falsos.

Na década de 1960, em particular antes do golpe militar de 1964, a colónia de exilados políticos coexistiu no Brasil com a dos emigrantes simpatizantes de Salazar, mas os opositores políticos concentravam-se, sobretudo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Durante a ditadura militar brasileira, os exilados políticos, principalmente os estudantes, foram presos e vigiados pela polícia política brasileira, que trocava informações com a PIDE, quer pela via diplomática, quer pela não diplomática.

Um caso especial de exilados, em Portugal, foi aquele constituído pelos objetores de consciência que desertavam, ou fugiam, configurando um tipo de exílio que afetava homens jovens que assim escapavam à guerra colonial ou à incorporação obrigatória nas forças armadas. Em certos casos, eram as próprias famílias que preveniam tal possibilidade, enviando os filhos para fora do país. Noutros casos, aproveitando a oportunidade de uma licença, os jovens desertavam e não regressavam, misturando-se no exterior com as comunidades de exilados políticos.

Em termos gerais, o exílio político corresponde a uma condição de “anormalidade”, tanto no país de acolhimento como na relação com o país de origem. É uma anormalidade que tem a ver com a mudança de residência para um local não escolhido, em que o exilado está condicionado ideológica e socialmente, não apenas economicamente. Os exilados são seres “anómalos”, em muitos casos sem proteção jurídica ou legal, com “nacionalidade e residência incertas”; são pessoas sem Estado que “navegam em barcos pelo alto mar sem nenhuma bandeira”. O desejo de retorno ao país de origem intensifica-se com a passagem do tempo, acentuando a saudade dos entes queridos e o sentimento de falta de “identidade pessoal”.


por:  Ángel Rodríguez Gallardo