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I Guerra Mundial

Decorrida entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918, a I Guerra Mundial resultou na derrota das Potências Centrais (lideradas pelo Império Alemão, o Império Austro-húngaro e o Império Otomano) pela Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, pela França e pelo Império Russo até 1917, e pelos Estados Unidos, a partir dessa data). Irrompendo do assassinato do arquiduque Austro-húngaro, Francisco Ferdinando, a 28 de junho de 1914, o universo conjugado de razões que estão na sua origem é bem mais vasto, podendo ir do imperialismo económico ao exponencial nacionalismo. O conflito, que se pensou breve, transformou-se num longo e penoso confronto de trincheiras. Este resultou em mais de dezanove milhões de mortos, mobilizando, numa guerra total, todas as sociedades dos países envolvidos e abalando, definitivamente, a velha ordem na base das sociedades liberais.

Portugal integrou as nações aliadas vencedoras. Porém, afastada a possibilidade de uma ameaça territorial, a defesa das colónias não se revelou capaz de justificar uma diligência em território Europeu, nem mesmo por razões diplomáticas, antevendo-se motivações de ordem política no desejo intervencionista do Partido Democrático. Apesar das pressões da Inglaterra em sentido contrário, Portugal declararia guerra à Alemanha em março de 1916. Foram mobilizados cerca de cem mil homens, primeiro para África (1914) e depois para a frente europeia (1917), dos quais resultariam mais de sete mil mortos e cerca de treze mil feridos. Somente na Batalha de La Lys (9 de abril de 1918), perdeu-se 25% do Corpo Expedicionário Português (CEP). A ausência de confrontos em território nacional e as profundas divergências geradas no país relativamente à sua participação no conflito em território europeu determinaram a inexistência de uma mobilização nacional no esforço de guerra e de um espírito comum na edificação de uma memória nacional em torno do grande esforço da Pátria.

Terminada a guerra, o regresso das tropas vai fazer-se lentamente entre os meses de janeiro e junho de 1919. As últimas tropas a voltar da Europa depararam-se com as limitações de transporte, sinal de uma profunda indiferença com a sua condição. Mais do que o regresso dos soldados em geral, o dos prisioneiros de guerra, cujo número é o único proporcional ao das outras nações, era ainda mais penoso. A sua distribuição por cinquenta e nove campos, devido à reduzida dimensão do grupo, contribuiu para um agravamento do peso do cativeiro, uma vez que a barreira da língua acentuava o isolamento. Com o final da guerra avizinha-se a esperança do regresso a casa. Apesar de o Armistício estabelecer a libertação imediata de todos os prisioneiros, uma série de obstáculos jurídico-políticos e técnico-logísticos tornaria o processo de repatriamento extremamente moroso e complexo. Assim, à violência do cativeiro inimigo acrescente-se o esquecimento e abandono a que foram votados estes homens, denunciando igualmente a condição “inglória” e “indigna” do estatuto do prisioneiro na guerra. Daquilo que compõe o todo da experiência de guerra, a morte é o fenómeno cujo impacto é mais profundo. O quotidiano de guerra colocou os soldados face à persistente e dolorosa ameaça de vida, que insiste em vir ao de cima nos períodos de espera entre os confrontos, um tempo passado entre cadáveres que se procuram enterrar condignamente. Segundo dados do Serviço de Estatística do C.E.P. de 1924, dos 55 085 efetivos mobilizados para a frente europeia, morreram cerca de 1 992, 3,6% de baixas, a maioria em combate. Mas não é apenas na questão do contingente ou força de combate que a morte é central, também no impacto psicológico. As condições físicas da guerra de trincheiras, onde homens eram reduzidos e enfraquecidos pela ausência de um roulement regular, pela desigualdade de licenciamento e pela falta do apoio moral e material de uma nação, criaram um universo de insustentabilidade e descrença em relação às razões da guerra e mais ainda em relação à pátria que defendiam.


por:  Sílvia Correia

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