1970. Carta de amizade recebida por um militar. Do Porto para Camabatela, Angola. FLY1424

FLY1424
Carta de amizade recebida por um militar. Do Porto para Camabatela, Angola.

Data
14/08/1970

Referência Arquivística
N.A.
Arquivo Privado, Arquivo Privado, FLY1424, Fólios [1]r-[2]v

Resumo
O autor conta ao amigo como é o seu dia a dia, em que nada de especial acontece. Dá-lhe ainda notícias da família dele e do campeonato de futebol.

Local
Porto

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Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Texto

Fl. [1]r

Porto,

14/8/70

Caríssimo Amigo [N]:

como não podia deixar de ser, o início desta
carta, será em tudo igual ao de muitas outras que
a precederam. Na verdade começo por pedir-te des
culpa pelo atrazo que houver na correspondência
- e para isso até vai esta de avião visto ser mais rápida
mas os dias correm que voam quando damos
por ela não temos asas suficientemente fortes para
o apanhar e como não podia deixar de ser começa-
mos a ficar para trás, e estar atrazados.

Na verdade já recebi os aéros teus sem que te
escrevesse, o último foi mesmo hoje - era o que trazia
a fotografia - e para não atrazar mais, mal o li
comecei logo a escrever.

Pois, caro amigo, sobre a minha vida, quase
é parecida com a tropa, só que não ando no mato
mas a verdade é que também pareço viver numa
prisão, só que bem entendido, de livre vontade.
Assim é que apesar de o Tribunal estar em férias
Fl. [1]v
eu para mim não há tal. A minha vida desde o
dia 1 de agosto tem sido e continuará a ser até
fins de Setembro, esta:

Levanto-me às 9 h da manhã, fico em casa
a estudar até à hora do almoço, mal acabo de
comer, vou para o trabalho e estudo lá desde as 2 h
até às 7 h da tarde. Depois venho a casa jantar
e ás 9 h da noite vou ter com os meus colegas
à Boavista e ficamos a estudar até por volta da
1h, 1 h e tal.

E isto consecutivamente, esta é a razão porque
de novidades pouco, nada tenho a contar, dada
esta quase minha vida de ermitão.

Sobre os teus, creio que estás ao corrente das
suas vidas.
A [N] está a gozar férias em casa, com
o pai, a tua mãe está cá em baixo, em casa
da [N] a passar o tempo de praia. A [N]
chegou esta semana de Lisboa e foi também
para a aldeia passar uns dias. As miúdas
Fl. [2]r
da [N] estiveram todas com o sarampo, do
[N] e [N], nada sei uma vez que
ficam mais além fronteiras, mas por certo te
têm escrito e estarás ao corrente das suas
situações.

Agora, antes que esqueça, quero agradecer-te
a foto enviada, enfim estás aquilo que sempre
foste, o que devias era tirar uma foto com uma
preta boa, toda núa ao teu lado, que era para a
gente saber se há aí mulheres, ainda que pretas,
que valham a pena dar duas trolitadas ou se
a única maneira é ir à Rua da Palma, no
5, direita.

Pois caro [N], não sei sinceramente que
mais dizer pois a vida continua a processar-se
na normalidade suturna, melancólica, sem nada
que a faça estremecer e dar-nos algo que contar.

Ah! é verdade, está quase a chegar o
campeonato mas... desta vez não temos pre-
tensões, pois segundo diz o Sr [N], quem
Fl. [2]v
fica campeão este ano é o Belenenses. E por
acaso logo na segunda jornada há logo dois
jogos de peso: Benfica-Sporting e Porto-Belenenses.
Se o Belenenses ganha aqui ao Porto então
é que ninguém cala o Sr [N].

E pronto vou finalizar, esperando que
haja sido perdoado pela demora do correio e
com os votos que a vida te continue a correr
por aí à medida dos teus desejos bem como
a saúde e disposição nunca te faltem envio
o meu abraço cordial e de sincera amizade

deste teu amigo sempre ao dispor

[N]

P.S.
PS: Agradeço reconhecido a tua contribuição
junto de Deus para o meu sucesso nos
exames, só confirma que [...] és amigo.
Gratias tantas.



Contexto
Guerra Colonial



Palavras Chave

Tipo: notícias
História: guerra colonial
Sociologia: saúde, desporto, intimidade, família




Suporte Material

Suporte: folha de papel de carta dobrada e escrita em todas as faces.
Medidas: 267mm × 147mm
Mancha Gráfica: sem linhas em branco entre a fórmula de endereço e o início do texto.




Créditos

Transcrição: Leonor Tavares
Codificação DALF: Leonor Tavares
Contextualização: Joana Pontes




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