Texto Fl. [1]r -6-10-970 Querido manito: Desculpa antes de mais este meu atra-so em te escrever mas sinceramente a culpa não foi propriamente minha pois durante estes dias de luta como deves compreender foram imensas as vezes que pensava em te escrever mas o tempo escasseava para tudo até para te escrever. Sabes bem (se ainda te não esqueceu) que durante a compra das uvas brancas o Pai quase não dorme. Ora como este ano fui só eu que andei com ele durante todo o tempo aconteceu-me o mesmo. Muitas noites fomos à cama apenas duas ou 3 horas e nem nessas poucas horas se dormia com a preocupação. Felizmente esse trabalho já terminou e com rendimento graças a Deus. Não demos o trabalho e esforço por mal empregues. Isto não se diz a ninguém mas só de lucro foram à volta de 14.000$00 e nas nossas uvas brancas todas fizemos 12.000$00. Graças a Deus este ano tudo correu bem. Oxalá daqui em diante assim continue. Mandamos para Ama- rante 111.000 kg de uvas brancas e ainda houve uns aumentos nas cami- onetes razoáveis. Quanto ao vinho tinto aqui de [L] já se fizeram 4 pipas duma lagarada e amanhã vão-se apanhar o resto das uvas que ainda devem Fl. [1]v dar à volta de duas pipas. Na [L] só sexta - e sabado é que se vai fazer a vindima, mas segundo as estatísticas deve haver pelo menos 5 pipas de vinho tinto. Como depreendes de tudo que te disse há muito vinho este ano tanto branco como tinto. Agora só se espera um bom preço para o vinho tinto. Isto de ter muitas uvas não aconteceu só connosco, foi com toda a gente graças ao Senhor. Para já foi o vinho que se colheu o resto das colheitas ainda não estão totalmente armazenadas. Quando se souber resultados te contarei pois sei o quanto aprecias saber da vida da nossa casa. De novidades não sei que mais te conte com interesse. Ah! A [N] já mudou para o [L]. Eu fui ao Porto ajudar a fazer-lhe a muda e aproveitei a despedir-me do [N] que foi hoje para a tropa. Ele concerte- za te escreve de lá. Não digo jà nos primei- ros dias porque ainda vem fazer exames ao Porto mas quando tiver tempo ele se encarrega de se por a par contigo. Quanto a dizeres que eu sou preguiçosa para te escrever mano parece-me que não tens muita queixa. Se não recebes as cartas eu não tenho culpa. Escrevi-te pelos anos um postal e uma carta e mandaste-me dizer que não recebeste nada meu. Fl. [2]r Francamente fico triste pois todos de casa sabem que me lembrei dos teus anos e te escrevi. Não penses que te estou a embrulhar para ficar bem vista mas o que digo é verdade. Sobre isto não sei que mais te dizer mano a carta já vai longa e não disse muitas coisas que me apeteciam dizer Paciência, se não forem irão para a próxima. Sabes uma coisa [N] tinha tantas coisas para escrever, mas a mãe chamou-me para jan- tar e eu fui, agora depois já de comer vim novamente escrever-te e já não me lembro de nada que tinha na ideia. Valha-me Nossa Senhora que pateta que eu sou. Ah! Espero que o teu colega venha cá dar uma visita (ao Porto) quando vier de férias Ainda não falei com a [N] depois que vim para férias mas até estou anciosa pa falar com ela àcerca dos amores. É verdade outra coisa: A [N] jà arranjou um namorado todo atestado por isso podes deixar de lhe escrever com qualquer ideia futura. Nem calculas, são uns amores doidos. Vê-se mesmo que andava anciosa por arranjar alguém que lhe ligasse, e que lhe fizesse festas. Tu estavas longe! Não a podias abraçar e por isso deu-te com os pés. Arranjou um mais atiradiço. Com tudo isto já escrevi 3 folhas e não tenho mais. Termino com beijinhos dos Pais e da [N]. Da tua mana [N] recebe todo o amor e saudades que esta carta te possa levar [N]. Contexto Guerra Colonial Palavras Chave Tipo: notícias Suporte Material Suporte:
duas folhas de papel de carta escrita a primeira em ambas as faces e a segunda apenas no rosto.
Créditos Transcrição: Leonor Tavares Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com |
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