1971. Carta de amizade recebida por um militar. Do Porto para Camabatela, Angola. FLY1422

FLY1422
Carta de amizade recebida por um militar. Do Porto para Camabatela, Angola.

Data
21/11/1971

Referência Arquivística
N.A.
Arquivo Privado, Arquivo Privado, FLY1422, Fólio [1]r

Resumo
O autor conta ao amigo que foi dispensado do restante serviço militar por causa de uma úlcera e aproveita para lhe desejar uma boa Páscoa.

Local
Porto

Cartas relacionadas
FLY1335   FLY1336   FLY1337   FLY1338   FLY1339   FLY1340   FLY1341   FLY1342   FLY1343   FLY1344  
FLY1345   FLY1346   FLY1347   FLY1348   FLY1349   FLY1350   FLY1351   FLY1352   FLY1353   FLY1354  
FLY1355   FLY1356   FLY1357   FLY1358   FLY1359   FLY1360   FLY1361   FLY1362   FLY1363   FLY1364  
FLY1365   FLY1366   FLY1367   FLY1368   FLY1369   FLY1370   FLY1371   FLY1372   FLY1373   FLY1374  
FLY1375   FLY1376   FLY1377   FLY1378   FLY1379   FLY1380   FLY1381   FLY1382   FLY1383   FLY1384  
FLY1385   FLY1386   FLY1387   FLY1388   FLY1389   FLY1390   FLY1391   FLY1392   FLY1393   FLY1394  
FLY1395   FLY1396   FLY1397   FLY1398   FLY1499   FLY1400   FLY1401   FLY1402   FLY1403   FLY1404  
FLY1405   FLY1406   FLY1407   FLY1408   FLY1409   FLY1410   FLY1411   FLY1412   FLY1413   FLY1414  
FLY1415   FLY1416   FLY1417   FLY1418   FLY1419   FLY1420   FLY1421   FLY1423   FLY1424   FLY1425  
FLY1426   FLY1427   FLY1428   FLY1429   FLY1430   FLY1431   FLY1432   FLY1433   FLY1434   FLY1435  
FLY1436   FLY1437   FLY1438   FLY1439   FLY1440   FLY1441  


 Download XML       Download em formato PDF



Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Sobrescrito

Destinatário

Exmo Sr [N]
1o Cabo RádioTelefonista
SPM [D]


Remetente

Remetente [N]
Rua [L], [D]
Porto
METRÓPOLE


Carimbo
CTT PORTO - POMBAL
-7.4.71


Texto

Fl. [1]r

Porto

2/Abril de 1971

Estimado amigo [N]:

O teu comentário ao ver este aerograma terá sido o de, "até
que enfim" e terás razão para o fazer. A verdade é que já nem sei se sou
eu que tenho que te escrever ou tu a mim mas de certeza que sou eu
pois tu não te atrazarias tanto e eu já nem sei quando recebi o teu aero.
Mas, podes-lhe chamar preguiça pois não andarás muito longe da verdade
mas há também uma serie de coisas que iam-me ocupando de modo
a retardar sempre a resposta. Penitencio-me pois deste atrazo e espero que
me perdoes.

Pouca coisa tenho para te dizer mas, dentro dessa pouca coisa
a verdade é que o que te vou dizer soará como uma bomba, ou melhor
se quizeres com uma morteirada ainda que sem ser atirada pelo canhão.

Pois caro amigo [N] o que te tenho para dizer é que já não sou
mais militar, nem oficial, nem nada. Vim-me embora da tropa ao fim
de 6 meses. Assim é na verdade, fui dado incapaz por causa da minha
úlcera no duodeno. Como sabes já a tenho hà muitos anos e, enquanto an-
dei em [L] não me doeu, mas quando fui para o [L] logo na 2a
semana doeu-me de tal modo que eu tive que me queixar ao médico da
unidade. Ele mandou-me tirar radiografias no Hospital Militar, fui lá tirá-
-las e depois tinha que lá ir saber o resultado ao Hospital. Mas meteu-se o
Carnaval com os 5 dias de férias mas isto mais aquilo e como eu não sabia que
a úlcera dava direito a peluda fui atrazando até que no dia 22 de Março
resolvi lá ir uma vez que a especialidade acabava a 25 e nós vinhamos
depois 15 dias de férias. Fui lá e qual não foi o meu espanto quando o
médico que é capitão, e é o director da clínica me propôs à junta hospitalar.
Fui chamado à junta no dia 26 e lá disseram-me que fui considerado
incapaz para todo o serviço militar.

É esta pois a minha situação presente, já posso começar a organizar a
minha situação na vida uma vez que já sou totalmente livre. Foi bom
vir embora porque adiantei posso dizer 3 anos na minha vida. Bem sei
que tinha uma boa especialidade que era contabilidade mas a verdade é que
o mais certo era ir para uma unidade longe do Porto, não poder continuar a
estudar, podia ir para o ultramar e embora viesse com umas croas a verda-
de é que ficava muito atrazado em relação aos estudos e quando viesse da
tropa já com 27 ou 28 anos não sei se teria coragem e vontade de acabar
o curso. assim, estou no Porto, estou em casa dos meus pais, trabalho e
sei que posso estudar, e ainda que chumbe algumas vezes, adianto sempre
de qualquer modo.

É esta portanto a novidade que tenho para te contar já que de momento
é ela sem sombra de dúvida a mais importante

Estamos na Páscoa e antes de terminar quero desejar-te uma
feliz Páscoa, a última que aí passarás, e a verdade é que já falta
pouco para te termos cá disfrutando pois da tua companhia.

Conto ir passar a Páscoa lá acima à aldeia, pelo menos o
Domingo e a Segunda, a [N] já lá está e a tua irmã [N] e
o [N] também, vão na Quinta-feira santa e vêm na terça a se-
guir à Páscoa já que o teu cunhado está de férias.

Vou terminar pois de momento não tenho mais que te
escreva, só tenho a dizer-te que fui para a tropa mais tarde que tu
e ainda vim mais cedo, despeço-me então pois ainda quero es-
crever ao teu irmão [N] pois para ele também estou em dívida
e já que me dispuz a escrever vou acertar a correspondência que
se encontra em atrazo.

Finalizo então, desejando-te mais uma vez uma boa
Páscoa e os votos de que te encontres e fiques de boa
saúde com a disposição melhor possível

Teu amigo ao dispor

[N]




Contexto
Guerra Colonial



Palavras Chave

Tipo: notícias
História: guerra colonial
Sociologia: saúde, serviço militar




Suporte Material

Suporte: aerograma escrito apenas no rosto.
Medidas: 288mm × 177mm
Mancha Gráfica: sem linhas em branco entre a fórmula de endereço e o início do texto.




Créditos

Transcrição: Leonor Tavares
Codificação DALF: Leonor Tavares
Contextualização: Joana Pontes




Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com