1918. Carta familiar de um soldado do C.E.P. para a tia. De Haut Rieux para Paris. FLY2095

FLY2095
Carta familiar de um soldado do C.E.P. para a tia. De Haut Rieux para Paris.

Data
31/05/1918

Referência Arquivística
Arquivo Histórico Militar.
Corpo Expedicionário Português, I Divisão, 35ª Secção, Caixa 86, Fólios [1]r-[2]v

Resumo
Um militar escreve à sua tia contando que perdeu a morada da madrinha de guerra na Batalha de La Lys. Pede que a tia lhe mande roupa interior.

Local
Haut Rieux


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Autor | Destinatário | Contexto | Palavras Chave | Suporte Material | Créditos


Sobrescrito

Destinatário

Françe
Exma Snra
[N]
[D] R [L]
Paris



Texto

Fl. [1]r

Haut Rieux

31 de maio de 1918

Minha querida Tia

Há já pouco mais ou menos um
mez, que não tenho tido carta
sua, o que deveras me tem estra
nhádo o seu prolongado silencio
Minha boa tia. A minha fé
é que me tem salvádo, e provavel
mente as orações que minha
boa tia tem rezado a Virgem
Santissima será talvez o facto
de eu hoje estar vivo.
Minha querida tia, eu queria
escrever à minha madrinha
de guerra, mas não tenho
Fl. [1]v
a direcção d'ella, porque no dia
9 de abril perdi a direção d'ella
e mais correspondencia que tinha
em meu poder.
Foi esta a causa porque não
tenho escrito a minha madrin
ha, perdi a direção.
Minha querida tia, eu queria
mandár vir roupa de Portugal,
mas como demora algum tempo
e eu estou um pouco necessitá
do, pedia-lhe a especial favor se
pudér ser, mandar-me alguma
Fl. [2]r
roupa de dentro, que é o que tenho
de mais necessidade, mas isso
se a minha tia tiver vontade
de me mandar, pedia-lhe o favor
de ma mandár o mais breve
possivel.
Minha querida tia. Recomen
de-me muito a minha madri
nha de guerra, e quando me
escrever, mande-me a direção
d'ella.
Recomendações para toda
a gente sua
Fl. [1]v
conhecida e minha tia abençoe este
seu sobrinho.

[N], soldado
no [D] da [D] compa do [D]
Pelotão do regimento de infan
taria no [D] C E P França




Contexto
Decorrida entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918, a I Guerra Mundial resultou na derrota das Potências Centrais (lideradas pelo Império Alemão, o Império Austro-húngaro e o Império Otomano) pela Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, pela França e pelo Império Russo até 1917, e pelos Estados Unidos, a partir dessa data). Irrompendo do assassinato do arquiduque Austro-húngaro, Francisco Ferdinando, a 28 de junho de 1914, o universo conjugado de razões que estão na sua origem é bem mais vasto, podendo ir do imperialismo económico ao exponencial nacionalismo. O conflito, que se pensou breve, transformou-se num longo e penoso confronto de trincheiras. Este resultou em mais de dezanove milhões de mortos, mobilizando, numa guerra total, todas as sociedades dos países envolvidos e abalando, definitivamente, a velha ordem na base das sociedades liberais.
Portugal integrou as nações aliadas vencedoras. Porém, afastada a possibilidade de uma ameaça territorial, a defesa das colónias não se revelou capaz de justificar uma diligência em território Europeu, nem mesmo por razões diplomáticas, antevendo-se motivações de ordem política no desejo intervencionista do Partido Democrático. Apesar das pressões da Inglaterra em sentido contrário, Portugal declararia guerra à Alemanha em março de 1916. Foram mobilizados cerca de cem mil homens, primeiro para África (1914) e depois para a frente europeia (1917), dos quais resultariam mais de sete mil mortos e cerca de treze mil feridos. Somente na Batalha de La Lys (9 de abril de 1918), perdeu-se 25% do Corpo Expedicionário Português (C.E.P.). A ausência de confrontos em território nacional e as profundas divergências geradas no país relativamente à sua participação no conflito em território europeu determinaram a inexistência de uma mobilização nacional no esforço de guerra e de um espírito comum na edificação de uma memória nacional em torno do grande esforço da Pátria.
Bibliografia:
Marques, Isabel Pestana (2008), Das Trincheiras com Saudade - A vida quotidiana dos militares portugueses na Primeira Guerra Mundial, Lisboa, A Esfera dos Livros, p.247.



Palavras Chave

Tipo: pedido
Linguística: relativas
História: Primeira Guerra Mundial, família, uniformes, batalhas, saúde, serviço militar, guerra
Sociologia: condições económicas, comunicação, religião




Suporte Material

Suporte: um quarto de folha de papel dobrado escrito em todas as faces.
Medidas: 179mm × 107mm
Medidas do Envelope: 94mm × 120mm
Mancha Gráfica: duas linhas em branco entre a fórmula de endereço e o início do texto.
Nota: no texto há sublinhados a lápis vermelho que se supõe serem indicações da censura; o rosto do envelope encontra-se o carimbo da censura, cujo conteúdo é: C.E.P., *, 31, V, 18, [SPCIS].




Créditos

Transcrição: Mariana Gomes
Revisão: Rita Marquilhas
Codificação DALF: Mariana Gomes
Contextualização: Sílvia Correia




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