FLY2098 Data Referência Arquivística Resumo Local Download XML Download em formato PDF |
Sobrescrito
Destinatário
Illma Snra Texto Fl. [1]r Em Campanha 13- de Agosto de 1918 Minha querida mulher em primeiro queeu mais estimo que esta minha mal nutada carta te va emcomtrar de uma porfeita e felis saude em companhia dos nossos queridos meninos e em a companhia de tôda a nossa familia que eu ao fazer desta fico sem nuvidade alguma felismente. mulher eu hoje mesmo c estou rezulvido a mandarte dezer por que é a rasão que eu nâo tenho ido de lisença porque nesta vida sõ quem tem pais è que vai. porque nesta vida sô a muita malandrage. mulher mandute dezer esto porque vâu 3 rapazes daqui de lisença esta carta ê mitida em Portugal e depois ai asde resever. mulher eu te mando dezer aonde è que eu tenho estado olha estive 8 meses en uma vila chamada Breste e agora estou numa chamada Montevilieres esto tu quando me Fl. [1]v escriveres nâo me mandes dezer os nomes das terras porque ê muito perivido e eu mandei-te pedir 20 mil reis mas não mes mandes ate segunda resposta mulher eu aqui tenho paçado de tudo bem e mal agora esta vida é muiticimo tris te porque aqui a jente lida com bechos que os nossos são piores que esta vida sô é bôa para quem ê malandro. jente que não tem ningem mas eu tinha muito gosto em abraçace a minha familia mas atê que as licenças vam por terra não se pagara nada que agora ja ê preciço 300 fancus francus hora tu bem podes saber que eu que só ganho - 10 santavos por dia. mas isso não era a duvida que enfelismente tinha quem mos enpestase mas o que ê ê não me deixarem ir. porque teumos cá um hoficial Fl. [2]r que só manda quem el quer mulher mas não te afelijas que ainda um dia mus eumos a juntar se Deus quezer. bem agora da muitas saudades ao Compdre de a Comadre e a [N] e a [N] e a minha mãe e ao meu irmão e a tua irmã e a tua tia [N] e se para casso [...] vires o teu tiu da [L] dalhe saudades minha e que me desculpe eu não lhe ter escrte porque não savea escrever tinha que andar semper a pedir. muitas saudades as meninas da Sinho ra [N] e a tôda a familia dela e a minha tia [N] e a tia [N] e a toda familia e quem per mem preguntar desculpa em esta carta ir mal escrita porque vai muito a presa bem Fl. [2]v com esto não te maço mais da muitos bejos aos meninos e tu reseve um apretado abraço deste teu homem que muito te ama para sempre com esto termino esta minha carta sou este que me asino [N] Contexto Decorrida entre 28 de julho de 1914 e 11 de novembro de 1918, a I Guerra Mundial resultou na derrota das Potências Centrais (lideradas pelo Império Alemão, o Império Austro-húngaro e o Império Otomano) pela Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, pela França e pelo Império Russo até 1917, e pelos Estados Unidos, a partir dessa data). Irrompendo do assassinato do arquiduque Austro-húngaro, Francisco Ferdinando, a 28 de junho de 1914, o universo conjugado de razões que estão na sua origem é bem mais vasto, podendo ir do imperialismo económico ao exponencial nacionalismo. O conflito, que se pensou breve, transformou-se num longo e penoso confronto de trincheiras. Este resultou em mais de dezanove milhões de mortos, mobilizando, numa guerra total, todas as sociedades dos países envolvidos e abalando, definitivamente, a velha ordem na base das sociedades liberais. Portugal integrou as nações aliadas vencedoras. Porém, afastada a possibilidade de uma ameaça territorial, a defesa das colónias não se revelou capaz de justificar uma diligência em território Europeu, nem mesmo por razões diplomáticas, antevendo-se motivações de ordem política no desejo intervencionista do Partido Democrático. Apesar das pressões da Inglaterra em sentido contrário, Portugal declararia guerra à Alemanha em março de 1916. Foram mobilizados cerca de cem mil homens, primeiro para África (1914) e depois para a frente europeia (1917), dos quais resultariam mais de sete mil mortos e cerca de treze mil feridos. Somente na Batalha de La Lys (9 de abril de 1918), perdeu-se 25% do Corpo Expedicionário Português (C.E.P.). A ausência de confrontos em território nacional e as profundas divergências geradas no país relativamente à sua participação no conflito em território europeu determinaram a inexistência de uma mobilização nacional no esforço de guerra e de um espírito comum na edificação de uma memória nacional em torno do grande esforço da Pátria. Daquilo que compõe o todo da experiência de guerra, a morte é o fenómeno cujo impacto é mais profundo. O quotidiano de guerra colocou os soldados face à persistente e dolorosa ameaça de vida, que insiste em vir ao de cima nos períodos de espera entre os confrontos, um tempo passado entre cadáveres que se procuram enterrar condignamente. Segundo dados do Serviço de Estatística do C.E.P. de 1924, dos 55 085 efetivos mobilizados para a frente europeia, morreram cerca de 1 992, 3,6% de baixas, a maioria em combate. Mas não é apenas na questão do contingente ou força de combate que a morte é central, também no impacto psicológico. As condições físicas da guerra de trincheiras, onde homens eram reduzidos e enfraquecidos pela ausência de um roulement regular, pela desigualdade de licenciamento e pela falta do apoio moral e material de uma nação, criaram um universo de insustentabilidade e descrença em relação às razões da guerra e mais ainda em relação à pátria que defendiam. Palavras Chave Tipo: notícias Suporte Material Suporte:
meia folha de papel quadriculado dobrado e escrito em todas as faces.
Créditos Transcrição: Mariana Gomes Discorda da nossa leitura? Por favor escreva-nos: cardsclul@gmail.com |
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