Texto Fl. [1]r [L] 6-2-70 Querido Mano: Novamente aqui me encontro juntode ti com disposição, para te fazer, por alguns breves momentos, companhia. Estou a fazê-lo sentada na cama (por isso não repares a letra), pois já bateram as 24 h do dia 6, e início o dia 7 a escrever-te. Nesta carta, pouco ou quase nada tenho a dizer-te, a não ser que te fale do Carnaval. Este ano anda tudo muito morto, só com 20 dias de Carnaval e nem assim as pessoas se expandem. Ainda não fui a nenhum baile de carnaval e por aqui também não tem havido, quando fazem algum é para longe, e assim estou a ver que não vou a nenhum. Também não tenho pena, assim uma dançadeira como eu!.. fico a fazer muita falta. Não sei se o pai já te mandou dizer, mas nesta incerteza falo eu também: Matamos o porco ontem 5a feira e outro p' ra [N]. Talvez amanhã sábado venham cá todos, pelo menos foram convidados, a [N] vem de certeza, os outros façam como quiserem. [N] hoje mesmo recebemos correio teu para o Pai em que dizias que desde que te encontras aí já passastes 2 sacrifícios. Não Fl. [1]v me poderás dizer qual são eles? Ou não poderei ser sabedora do que se pas- sa contigo? Fico à espera... Então! Como vai a tua correspondên- cia com as tuas namoradas? Houve lá, tu gostarias que eu casasse en- quanto estiveres aí em Angola? ou queres que espere por ti? Sabes, o [N] deixou ficar a [N] julga-se mais do que ele e nem tanto é. Por aqui é tudo sempre a mesma coisa, os caminhos estão quase intransitáveis, os Rio Douro já tem descido um pouco mas ain- da anda muito grande [N], às vezes fico triste quando vejo os outros teus colegas a mandarem constante- mente fotografias. vê lá que o [N] só de- pois do Natal já mandou para os Pais 5/5 fotogra- fias, todas diferentes e todos os rapazes que se encontram na mesma situação. Os pais do [N] pouco lhe escrevem, porque não sabem ler e o filho todas as semanas lhe escreve 5 e 6 cartas. Tu agora estás a ficar mais perguiçoso, vá anda, manda- -me uma fotografia, está bem. Por agora vou finalizar enviando-te cum- primentos dos vizinhos, do sr [N]) ele foi agora de noite ao médico, porque ao dar um espirro rebentou a garganta, mas aquilo não é nada, até dava vontade de rir ao velo correr mesmo de noite para o Médico. Recebe sauda- des dos pais, e das criadas e da tua mana muito querida um forte abraço de muitas saudades [N] Contexto Guerra Colonial Palavras Chave Tipo: pedido Suporte Material Suporte:
folha de papel de carta escrita em ambas as faces.
Créditos Transcrição:
Leonor Tavares
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